Paixão e negócios: dá para juntar os dois?
Gostar do que faz é, definitivamente, um bom primeiro passo para empreender, pois é o que vai dar a determinação de que o empreendedor tanto precisa. Mas há quatro coisas em que ele precisa pensar antes de transformar uma paixão em um negócio:
1) Muitas paixões se tornam hobbies, mas muito hobby fica chato quando vira trabalho. O trabalho é a obrigação de tirar algum sustento a partir daquela atividade. Quando algo que era feito apenas por prazer vira obrigação, as exigências acabam tornando a atividade pesada e enfadonha.
2) Será que essa paixão pode se transformar em negócio? Nem sempre isso é possível, primeiro porque uma paixão, enquanto passatempo, demanda pouco tempo da pessoa. O trabalho, principalmente o de tocar um negócio, exige uma dedicação maior, uma qualidade maior e uma especialização maior. Gostar de fazer algo não quer dizer que a pessoa seja boa naquilo. Até há um grande potencial para se tornar excelente, mas existe uma grande distância entre as duas coisas.
3) A paixão não necessariamente tem viabilidade financeira. Uma coisa é se dedicar a algo de forma artesanal, outra é produzir em escala. Uma coisa é fazer algo por prazer e outra é procurar tanta gente que esteja disposta a pagar a ponto de cobrir os custos e despesas inerentes à constituição de um negócio de fato.
4) Por fim, uma pessoa pode se dedicar à sua paixão o tempo que quiser e só pensar nisso. Um negócio, por outro lado, exige outras atividades. A pessoa precisa pensar em vendas, fluxos financeiros, fornecedores, funcionários, contador, clientes etc. No final, ele vai descobrir que, com o negócio, o que ele menos vai fazer é justamente se dedicar à sua paixão.
A partir daí, é preciso pensar em como transformar a paixão em negócio. Para isso é preciso desenhar um modelo viável, e a própria condução da atividade já vai dando forma a esse modelo de negócio. Assim, por exemplo, se eu adoro desenvolver sistemas e tenho facilidade e talento para construir programas, a primeira coisa em que penso é em ganhar algum dinheiro como programador free-lance. Aí eu penso em me dedicar como autônomo e pegar projetos maiores. Depois eu descubro que preciso de alguém para me ajudar e chamo um amigo para fazer algumas coisas mais básicas dos programas. Logo vêm demandas maiores e eu chamo mais amigos. Até que o meu cliente diz que não posso mais ficar informal e aí eu preciso legalizar a empresa e registrar meus programadores. Nesse ponto é que tenho de fazer as contas para ver se vale a pena me tornar empreendedor, mas o modelo de negócio já está constituído, é uma consultoria de sistemas.
Outro caminho seria o seguinte: começo como programador free-lance. Quando chamo alguém para me ajudar, descubro que preciso ensinar algumas coisas para ele. Vejo que ele aprende rápido não porque ele é bom aluno, mas porque sou bom instrutor. Alguém descobre isso e me pede para dar umas aulinhas para os programadores da empresa dele. Aí vejo que dar aulas é mais legal do que programar e o modelo de negócio se converte em cursos de informática.
Outra possibilidade seria: começo como programador free-lance, aí participo de uma competição de games na faculdade, escrevo um aplicativo bem legal e ganho a competição. Descubro que eu ganhei não por causa do game, mas por causa do design gráfico que eu fiz. Então descubro que o que eu gosto mesmo é de design, e não tanto de programar. E o meu negócio se torna uma agência de design.
O que quero dizer é que o modelo de negócio pode ter uma enorme variedade de possibilidades e que a sua paixão não é a mesma quando você começa a navegar mais a fundo no tema. Você vai se descobrindo e ampliando suas possibilidades. Isso é muito comum, é saudável e, dependendo do caso, altamente lucrativo! O modelo de negócio é a forma como você configura o negócio de forma a atender um mercado da forma mais lucrativa possível. Para cada atividade, inúmeros modelos de negócios podem ser desenhados.
Se você pensa em ganhar dinheiro com a sua paixão, procure pensar em um modelo de negócio que torne isso viável, sem sacrificar o prazer da atividade. Vários empresários bem-sucedidos diminuíram o tamanho e a complexidade dos seus negócios ou até venderam parte dele, para poderem se dedicar apenas à parte do negócio que lhes dá prazer.
Em algum momento, a vontade de crescer e ganhar mais dinheiro não será mais compatível com o prazer de tocar sua paixão como negócio. O amante de gastronomia que abre restaurante, o amante de vinhos que abre uma vinícola, o turista que abre uma agência de viagens, o esportista que abre uma academia, e assim por diante. Todos eles podem se tornar grandes negócios, mas vale a pena?
Fonte: Revista PEGN
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