Desenvolvendo um planejamento próprio.
E a SUA estratégia?
É interessante constatar que muitos profissionais, inclusive da área de marketing e vendas, aptos e com experiência em planejar estratégias para as companhias que representam, costumam não desenvolver – com a mesma atenção e cuidado – o seu próprio planejamento estratégico, mirando seus objetivos pessoais e profissionais. Por que será que a velha máxima “em casa de ferreiro o espeto é de pau”, mostra-se real e com tanta frequência?
Divago por algumas possíveis justificativas:
1) Porque não dá tempo para pensar na própria vida e carreira;
2) Porque formular o plano ideal não é garantia de sucesso, logo, o que faz a diferença é o trabalho diário;
3) Porque para planejar são necessários recursos, informações e equipe, logo, sozinho vira um mero exercício;
4) Porque as metodologias de planejamento estratégico foram criadas para
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companhias e aplicá-las para pessoas é complexo...
Independentemente das respostas, hoje, qualquer profissional, assim como a organização em que atua, está inserido num ambiente competitivo que exige planos e decisões estratégicas, além do aprimoramento constante da sua eficiência operacional. Portanto, não é lógico, nem sensato, deixar o planejamento da própria atuação profissional, num espectro mais amplo, para relativos e incertos “momentos” de reflexão – muitas vezes provocados por acontecimentos, como uma demissão ou uma boa conversa com amigos. Assim, há a questão atitudinal, com certeza, envolvida. Da mesma forma que o plano é conceituado como um documento e o planejamento é um ato contínuo, frequente e metodológico, é preciso tratar o planejamento pessoal da mesma forma. Disciplinadamente, abrir espaços na agenda para a reflexão, análise, busca de informações, pesquisa de mercado, concepção de cenários prováveis, formulação de objetivos, caminhos e táticas, metas de desempenho e revisões contínuas. Porque o ato de planejar deve ser uma atitude frequente, afinal, não é algo que se faz só no final do ano, para, depois, “correr atrás” no ano seguinte. Planejamento deve ser um hábito. Porém, há também uma outra questão, e essa é mais crítica: nem todo profissional compreende o que é e como planejar, ou mesmo, o que seja estratégia e outros conceitos envolvidos.
Os cincos P's para estratégia
Pode parecer que o marketing adora aplicar “Ps” em suas definições, o ponto (ops!) é que uma das melhores definições que conheço consegue explicar, de forma inteligente, os conceitos principais de estratégia – que é a base do ato de planejar – por meio de cinco Ps: Plano, Padrão, Posição, Perspectiva e Partida. Segundo Henry Mintzberg, renomado autor de obras sobre o tema (inclusive, indico como leitura o “Safári de Estratégia”, da editora Bookman) a estratégia é normalmente reconhecida como um plano, “uma direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho para ir daqui até ali” (Mintzberg, 2000). Ou seja, estratégia vai do presente para o futuro. No entanto, estratégia também é um padrão, a consistência de um comportamento ao longo do tempo, do passado até o presente. Por isso, quando escrevi que nem todos profissionais têm um plano, não significa que eles não tenham uma estratégia. Veja bem, se um profissional chegou até esse momento presente, significa que ele tem uma história, e, ao analisá-la, consegue-se identificar padrões de decisões que refletem o nível de conhecimento e comportamento da pessoa e sua evolução. Algumas variações podem ocorrer, mas um padrão médio pode ser visualizado. Ao tomar consciência desse padrão estratégico, logo, se poderá projetá-lo para o futuro e concluir alguma coisa do tipo “se mantiver esse padrão de evolução, logo, meu futuro será X”. Enfim, o passado estabelece o futuro, se tudo andar como andou. Então, há sempre uma história, um padrão, e, decorrente disso, um plano e uma projeção futura. E aí cabe um questionamento: será que o padrão projetado atende às ambições e desejos desse profissional? Coerência entre pensamentos e atos A partir dessa constatação, aplica-se outros Ps: que posição, no caso, no mercado de trabalho, quer-se ter para a vida profissional? E em que tempo? Em quais condições e concessões em relação à vida pessoal e familiar? O “pê” de posição estimula as ambições, projeta os desejos e faz ganhar vida, às vontades próprias. Mas pode descambar para um futuro idealizado e genérico, com pouca relação com as particularidades que faz o ser humano diferente e único. Enquanto a posição influencia a formulação do futuro pretendido a partir da análise da pessoa, suas habilidades e vontades, a perspectiva – o “pê” que não é seguinte e, sim, paralelo – analisa o futuro a partir do mercado, das oportunidades oriundas e das mudanças futuras nesses cenários. A questão é que toda análise representa uma visão, uma opinião, que é alicerçada no conhecimento e nas experiências vividas. Diante disso, a relação posição-perspectiva do profissional para o mercado – e vice-versa – é mutável. Por isso, o planejar é um ato contínuo. E se, por um lado, é preciso valorizar as características e desejos, por outro, é preciso observar o cenário geral, para encaixar a posição pretendida, ou, mesmo, mudar a posição em função das perspectivas do mercado. E essa combinação estará formulada no, claro, “pê” de plano e nos seus objetivos para o futuro, influenciado pela ambição de ser amanhã diferente do que se é hoje. E, finalmente, o último dos Ps, a partida, diz respeito justamente a “saber jogar o jogo”, conduzir o dia a dia em função do plano, que representa a combinação posição-perspectiva. Partida é mais do que buscar a eficiência operacional, é trabalhar no presente decidindo e agindo coerentemente com o planejado. E é, justamente, a preocupação quanto à coerência entre pensamentos e atos, que estimula a constante revisão, que é necessária para melhorar a compreensão, a visão e a opinião. Assim, só o hábito de planejar já provoca mudanças e faz do futuro algo diferente do que foi o passado/presente. Então, comece agora.
Fonte: Varejista.com.br
Autor: Marcelo Miyashita
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