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20 de junho de 2014

Parentes de funcionários são bem-vindos?

Há quem defenda e quem seja contra. A contratação de parentes, na visão de alguns, é garantia de qualidade; na de outros, é dor de cabeça na certa. As vantagens apontadas pelos consultores e executivos de RH vão desde a confiança quase cega na indicação até ao maior compromisso e motivação do empregado. Quem é contra diz que pode haver ações de protecionismo, possível desmotivação e baixa produtividade por conta de conflitos profissionais ou casos de demissão de um dos parentes.

O presidente da consultoria Simon Franco, & TMP – HH Group, Simon Franco, se declara contra a contratação de familiares: “A meu ver é algo prejudicial à empresa, pois o aspecto emocional sempre prevalece, comprometendo o trabalho e, conseqüentemente, as metas organizacionais”. Na visão de Franco, aliás, dizer não ao funcionário que quer indicar um parente é uma tendência no mercado.

Por que? “Se tenho um filho dentro da empresa e percebo que ele não está sendo bem tratado, acabo ficando desmotivado e, em muitos casos, interferindo na situação”, avalia o consultor. Segundo ele, o que se percebe é que as empresas de capital aberto evitam esses risco. Já nas de capital fechado, a ação depende exclusivamente da visão dos acionistas. Por isso, concluir o que é certo ou errado é algo estritamente particular. “O que tem de ser avaliado é se vale a pena correr esse risco”, diz Simon.

Na linha da aceitação e até do incentivo à contratação de parentes está o diretor de RH de uma grande desenvolvedora e instaladora de provedores de serviços de comunicação, a norte-americana Lucent Technolologies. "Quando abrimos uma vaga, comunicamos primeiro internamente, com vistas a dar oportunidade para amigos e parentes dos funcionários, e só depois, se necessário, oferecemos ao mercado", afirma o diretor Fernando Marques.

A prática confirma a informação. Em conseqüência da evolução dos negócios a partir da fusão com a SID Telecom, em 97, a Lucent chegou a contratar num único ano (em 99) 650 funcionários. Detalhe: mais de 60% deles por indicação interna. Depois desse período, com a crise econômica, a equipe foi enxugada. De um total de quase mil funcionários, ficaram 700.

O porcentual de empregados indicados internamente caiu para 5%, mas por questões alheias à política da empresa.

Parente sim, protencionismo não

Mas, calma lá, a política de portas abertas para famílias inteiras não significa ausência de problemas. “Se as pessoas não forem maduras, a desvantagem é muito grande”, comenta Marques. Para ele, o importante é buscar a ética para lidar com potenciais situações de conflito, e isso exige algumas precauções administrativas: evitar uma relação de subordinação ou de desempenho de funções no mesmo setor e promover processos seletivos tão rigorosos quanto os realizados com o público externo.

“Já tivemos casos de um diretor que ligou para outro e pediu para que cuidasse de algum parente”, diz Marques. Nessas situações, diz ele, a solução é o “refresco na memória”, para lembrar o papel de cada profissional dentro da empresa.

No Citibank, pode, mas, se tiver parente no banco, o candidato a uma vaga tem de descrever o grau de parentesco, função e setor que ocupa. Fica tudo documentado. Apenas precaução, diz a generalista de RH do banco, Nora Ney. "O desconhecimento de relações familiares existentes pode submeter a empresa a posições de risco, como a ocorrência de relações de subordinação entre parentes".

As regras são claras, ressalta Nora: parente não é problema, mas nada de protecionismo. É assim no Bradesco também, o maior banco privado do País, com seus 78 mil funcionários, em que a contratação de parentes é permitida dentro de alguns critérios.

Em organizações grandes, explica a executiva do Citi, seria complicadíssimo tentar evitar essa situação. São 2,3 mil funcionários. “Imagine quantos casamentos acabam nascendo dentro da própria empresa”, diz ela.

Situações de risco, de qualquer forma, foram solucionados facilmente, explica Nora. “O máximo que tivemos de fazer para contornar potenciais problemas foi transferir pessoas de um departamento para outro”.

Para evitar constrangimentos

Na Pellegrino, uma das maiores fabricantes de autopeças do País, não há contratação de parentes. “Já deixamos de contratar bons profissionais por essa razão”, diz a gerente de RH, Ilza Donadio. Uma das razões, ressalta, é evitar constrangimentos. “Se trabalham na empresa pai e filho e precisamos demitir o filho, temos de dar satisfação ao pai também”, diz Ilza.

Segundo ela nem sempre uma indicação significa garantia: "Às vezes as indicações podem não corresponder a nossas expectativas e acabam causando um grande embaraço" São situações assim que a empresa decidiu não ter de enfrentar mais desde que adotou a política de "não a parentes" há cinco anos.

Para a gerente, parentes trabalhando na mesma organização podem suscitar inclusive situações que comprometem o rendimento individual. Isso porque a insatisfação de um pode afetar o outro. "Já tivemos de escolher um entre dois bons profissionais porque eles se conheceram dentro da empresa, se apaixonaram e acabaram se casando", diz Ilza Donadio. Regra é regra.

Fonte: www.canalrh.com.br