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7 de maio de 2014

Namoro entre funcionários é permitido?


O namoro entre funcionários não pode ser proibido pelas empresas, de acordo com advogados trabalhistas. Entretanto, beijos, abraços, demonstrações de carinhos mais explícitas ou relação sexual são proibidas durante o expediente – se um casal for flagrado pode ser demitido por justa causa.

Como os relacionamentos não podem ser impedidos formalmente (determinaçao registrada em manuais de procedimento, murais internos ou em contratos de trabalho), algumas empresas fazem a determinação de forma implícita – conversa informal entre chefe e subordinado.

Advogados afirmam que proibir os relacionamentos amorosos pode ser caracterizado como discriminatório, além de ser inconstitucional, já que fere o direito à intimidade.

“A proibição extrapola o poder disciplinar do emprego. O que o empregador pode impedir são atos como beijos e carícias no ambiente de trabalho”, diz Eli Alves da Silva, presidente da Comissão de Direito Trabalhista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

“O funcionário que for dispensado por namorar um colega de trabalho pode entrar com uma ação na Justiça e pedir indenização por dano moral”, explica a advogada trabalhista Juliana Borges.

Sobre a prática de algumas empresas transferirem o funcionário de departamento porque ele namora um colega daquele setor, a advogada afirma que o empregador não pode adotar esse procedimento com a alegação de que eles têm um relacionamento amoroso.

Já no caso daqueles que passam dos limites dentro da empresa, o advogado trabalhista Marcos César Amador Alves diz que a justificativa para mandar embora por justa causa é a chamada incontinência de conduta, prevista na legislação trabalhista, que significa tomar atitudes exageradas e que não condizem com o ambiente de trabalho, como é o caso de beijos, abraços ou até relação sexual.

Inevitável

Além de não poder ser proibido, o relacionamento amoroso entre colegas do trabalho é inevitável, diz o professor do Instituto de Psicologia da USP, Ailton Amélio da Silva, especialista no assunto.

De acordo com ele, o motivo é que no trabalho as pessoas têm um grau de compatibilidade maior, já que gostam de coisas parecidas e têm níveis educacional e social equivalentes. Além disso, os colegas de trabalho ficam muito tempo juntos, saem para almoçar e acabam se conhecendo melhor. “As pessoas ficam todo dia repetindo as chances [de dar certo], uma hora a coisa rola”, diz.

O professor revela ainda que, geralmente, os relacionamentos entre colegas da empresa são mais criteriosos e têm maiores chances de evoluir. “Ninguém vai ficar com alguém do trabalho só por atração, já que terá de olhar na cara do outro no dia seguinte”, diz.

De acordo com pesquisas realizadas por ele, cerca de 40% dos namoros ocorrem entre pessoas que já se conhecem, o que inclui os romances iniciados na empresa.

Para Alessandra Tomelin, gerente de RH da empresa Vagas Tecnologia, cabe ao funcionário compreender a cultura da empresa e se posicionar de acordo com ela. “Quando o profissional entra na empresa ele tem que compreender quais são as regras”, diz.

Ela acredita, porém, que não há como evitar os relacionamentos. “Não faz sentido a empresa interferir tanto na vida do funcionário a ponto de ditar regra na vida pessoal dele”, diz.

Relação entre chefe e subordinado

De acordo com os especialistas, a grande polêmica ocorre quando a relação surge entre chefe e subordinado ou funcionários da mesma equipe, o que pode resultar em vantagens ou desvantagens para o casal.

A rede de supermercados Walmart, por exemplo, costuma transferir os funcionários de setor quando isso ocorre. ”Dependendo das funções, o relacionamento pode atrapalhar. Outros colegas podem se sentir menos atendidos pela chefia e achar que o outro tem tratamento diferenciado por ser namorado. Nesses casos, a empresa pode tomar a decisão de sugerir, para o bem comum, a transferência da pessoa”, disse o diretor de capital humano da empresa, Giovane Costa.

Costa afirmou, porém, que a empresa dá abertura para os funcionários, que se sentem confortáveis em falar sobre o assunto. “São 85 mil funcionários na empresa e, por isso, há muitos casos de relacionamentos. Sabemos que é normal”. Costa acredita que, com a evolução das mulheres no mercado de trabalho, casos de namoro entre funcionários têm se tornado cada vez mais comun.


Eles e elas
A escritora americana Shere Hite, autora do livro Sex and Business (Sexo e Negócios), fez uma série de estudos sobre o namoro no ambiente de trabalho. Os números de Hite foram recolhidos em empresas americanas, mas servem como referência para o Brasil. 
 
  • 42% dos empregados têm um caso com um colega do trabalho 
  • 35% dos casais preferem esconder o romance dos colegas 
  • 70% dos homens já tiveram alguma vez algum relacionamento na firma 
  • 60% das mulheres já viveram um romance no trabalho 
  • 61% dos homens disseram que o relacionamento foi positivo 
  • 73% das mulheres disseram que o envolvimento foi negativo
 
Dicas para o amor na empresa
 
Nos corredores da firma, evite os apelidos carinhosos pelos quais vocês costumam se tratar. "Gatão", "lindinha" e "amor" nem pensar;

Não crie situações para ficar a sós com seu amado ou sua amada. Isso constrange os colegas e cria falatório;

Nada de bilhetinhos amorosos ou "calientes". Eles podem cair em mãos erradas;

Se a empresa não proíbe o namoro entre funcionários e os dois são desimpedidos, não vale a pena esconder o relacionamento. Se os colegas descobrem, podem surgir fofocas e desconfiança;

Empresa não é lugar para ficar de cara fechada nem é o melhor local para reconciliações. Os colegas não precisam acompanhar os lances de sua vida amorosa, como se ela fosse uma novela;

Cenas de ciúme são péssimas para sua imagem na empresa. Sugerem que você pode ser um funcionário desequilibrado;

Não crie empecilhos para que seu namorado ou namorada almoce com colegas ou superiores sob o argumento de que "você não liga mais para mim". Isso pode prejudicar a carreira dele;

Todo mundo percebe quando dois namorados estão falando ao telefone. O ideal é evitar esses momentos ou ser o mais sucinto possível;

Vocês se vêem o dia inteiro. Mas isso não é motivo para que um fique policiando o horário do outro.

Por: Gabriela Gasparin, Marta Cavallini e Cristiane Aguiar