Adicione aos favoritos, compartilheClique no botão Opções do Artigo;

10 de dezembro de 2014

Entenda como funciona o processo de venda, aquisição ou fusão entre as empresas


Em 2010, o número de fusões e compra de empresas por outras organizações superou as perspectivas. De acordo com dados do relatório Forging Ahead, 2010 Annual Review, somente no setor de
siderurgia
somou-se 27 bilhões de dólares em fusões e aquisições, um salto de 78% em relação ao ano anterior.

Para 2011, a expectativa é que as compra e vendas entre as empresas aumentem mais em pequenas e médias empresas. Os setores mais promissores deverão ser o varejo especializado para classe C e D, tecnologia da informação (TI), construção civil e o setor de óleo e gás.

Só que apesar de gerar bilhões de dólares em todo o mundo, é comum surgir dúvidas de como funciona todo o processo de compra, venda e fusão no mundo dos negócios. Para esclarecer mais sobre o tema, o Portal Administradores entrevistou Miguel Abdo, sócio-diretor da Naxentia, consultoria que ajuda empresas a "arrumar a casa" e capturar mais valor na hora da venda. Confira:

No ano passado, o Brasil bateu o recorde de fusões e aquisições e, a perspectiva para 2011 é que o país se mantenha forte no número dessas transações. Quais são os setores, atualmente, que são mais propícios às fusões ou compra por companhias maiores?

Os setores que devem se destacar em 2011 são o de varejo especializado, de serviços, cadeia de óleo e gás e infraestrutura. Ressalta-se que, enquanto as grandes empresas já passaram por um movimento de consolidação, limitando as oportunidades de novos negócios, agora o destaque serão as companhias de médio porte.

Dessas operações anunciadas recentemente, quais delas você destacaria?

O anuncio da compra da rede varejista carioca [especializada em eletroeletrônicos] Casa & Vídeo, avaliada em R$ 600 milhões pelo BTG. Exemplo de empresa de médio porte de varejo especializado.

Quais são os fatores que influenciam o processo de venda de uma empresa. O que deve ser avaliado principalmente?

Ganhos de eficiência, sinergias, necessidade de diversificação e entrada em novos mercados, são alguns dos motivos das fusões e aquisições entre empresas.

E o que é importante avaliar?

No processo de venda, é importante avaliar a saúde da empresa a ser comprada, a capacidade de gerar caixa, o nível de endividamento e o peso dos custos no total do faturamento. Deve-se verificar se os impostos e os pagamentos para órgãos como o INSS ou para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço estão em dia. Além disso, é preciso checar se os balanços dos últimos anos estão corretos e se as contas foram auditadas.

A grande maioria das empresas nacionais de médio porte apresenta um grau elevado de informalidade, problemas trabalhistas, fiscais e até mesmo ausência de um sistema de gestão corporativa. Por isso, acabam aparecendo alguns problemas nos processos de fusão e aquisição. Muitos negócios estão estagnados ou não avançam pela própria falta de qualidade das empresas.

Com a falta de dados concretos da situação da companhia e, consequentemente, da segurança necessária para efetivação do negócio, a ponta compradora acaba desistindo da transação. Os investidores, institucionais ou estratégicos, ficam impossibilitados de adquirir um ativo por conta de características e processos duvidosos, mesmo sendo um ativo bastante atrativo e com bom potencial de crescimento.

Vale investir em uma reestruturação para que se consiga o melhor valor possível no momento que assinar a venda. Empresas especializadas em reestruturação podem ser chamadas para fazer uma espécie de "arrumação da casa". Ou seja, profissionais qualificados que irão preparar a empresa para ser adquirida após um período de gestão profissional.

Esses processos de aquisição ou fusão das empresas geralmente são feitos por etapas? Como isso funciona?

Adquirir ou unir-se a outra empresa é um processo que requer atenção e cuidados minuciosos. O primeiro ponto de atenção é a avaliação da empresa a ser integrada ou adquirida. O processo de due diligence tem como objetivo exatamente a transparência de informações para que a condução seja a mais clara possível. Em qualquer transação como esta, seja envolvendo grande, pequenas ou médias empresas, é fundamental a análise e avaliação detalhada de informações e documentos da empresa a ser adquirida.

O ideal é realizar um due diligence clássico acompanhado de um due diligence financeiro (performance histórica, posição financeira atual, validação de projeções), operacional (avaliação do supply chain, alinhamento da organização, infraestrutura de TI) e estratégico (tendências de mercado, posicionamento de produto / preço, analise de clientes). É preciso avaliar os pontos críticos, identificar os riscos e passivos, assim como as oportunidades para, somente a partir destas informações, definir qual seria a melhor alternativa para estruturar a negociação.

Ultrapassado o desafio da negociação, começa o maior trabalho: o processo de integração. As empresas precisam estar preparadas para integrar culturas, histórias, processos e objetivos até agora distintos. Assim, mesmo que a negociação financeira tenha sido um sucesso, o futuro do novo negócio dependerá de como a empresa irá conduzir a união das duas empresas.

Iniciada a transição, o primeiro passo é revisar o plano de ação para integração e captura de sinergias. Com todas as informações em mãos, será possível definir um planejamento estratégico, de longo prazo. Mudanças de cronograma e previsões são frequentes e os gestores precisam estar preparados para adaptações.

Como impedir que a cultura organizacional de uma empresa que passa por algum processo de fusão ou venda seja afetada?

As empresas são feitas por pessoas e é recomendado comunicá-las corretamente. Se todos estiverem envolvidos, a transição será muito mais tranquila. Considerando que, muitas vezes, o processo envolve a renovação e a redução de equipes, a comunicação é uma forma eficaz de gerenciar este processo e tranquilizar a equipe.

Independente do porte e da nacionalidade da empresa, os primeiros três meses são os mais difíceis e precisam, necessariamente, de estruturação e planejamento. Somente com este dois requisitos, a transação, de fato, pode se concretizar em um grande negócio.

Autor: Fábio Bandeira de Mello
Fonte: Administradores