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23 de julho de 2012

A cultura da simplicidade



O modelo de gestão norte-americano que foi incorporado pelas companhias brasileiras com pouquíssimas reservas nestas últimas décadas é responsável por uma série de valores que ajudaram a modernizar o parque industrial brasileiro, mas também trouxe consigo uma cultura baseada na sofisticação que pode ser extremamente danosa em vários casos.

É comum encontrarmos empresas nas quais questões fáceis de resolver, a princípio, são encaradas como problemões e aonde as soluções óbvias são descartadas justamente por causa do senso comum de que as respostas adequadas sempre precisam ser estratégicas e complexas. Resultado: muita pomposidade e ineficácia.

Mesmo competindo num mundo cada vez mais complexo as organizações devem simplificar tudo aquilo que fazem se quiserem lidar adequadamente com o quadro de incertezas que enfrentam em seu dia a dia. E vale lembrar: aquelas que enveredam pelo caminho da complicação tendem a ser lentas no processo decisório e a naufragarem cedo ou tarde.

Valorizar a simplicidade é, acima de tudo, estimular o potencial criativo das pessoas, afinal as pequenas e grandes ideias inovadoras que revolucionam o mercado muitas vezes são óbvias. Não é a toa que quando estamos diante de novas maravilhas nos indaguemos: "Nossa! Como ninguém pensou nisto antes?"

As empresas de tecnologia, pelo menos, praticam este princípio há algum tempo. O iPad, por exemplo, possui um manuseio tão fácil que qualquer pessoa o domina em poucos minutos, até mesmo o meu filhinho de um ano. Mesmo caminho adotado pelo Wii, da Nintendo, que graças à simplicidade tornou possível a venda de mais de 100 milhões de unidades para clientes que, em muitos casos, já não se arriscavam a jogar videogame há um bom tempo intimidados pela complexidade dos modelos anteriores disponíveis.

No entanto, é preciso saber diferenciar simplicidade de simplismo. Enquanto este se refere ao raciocínio que despreza elementos necessários à solução de um dado problema proporcionando apenas resultados paliativos, aquele tem a ver com o emprego da forma mais fácil para a sua resolução efetiva. Ou seja, ser simples não é escolher o tosco. Ou você acha o iPad malfeito?

Além disto, é importante salientar que soluções simples são tão eficazes – senão mais – do que aquelas com alto grau de sofisticação e possuem a vantagem adicional de estarem próximas. Quem já não se deparou procurando uma fórmula mágica para resolver determinada encrenca quando a alternativa mais óbvia estava bem diante de seus olhos?

Nas relações pessoais também é importante guiar-se pela simplicidade. Quanto mais clara e objetiva é uma mensagem menos ruídos surgem pelo caminho e isto resulta na compreensão esperada. Assim, é admirável que você domine o jargão corporativo de A a Z, mas não precisa utilizá-lo a toda hora apenas para mostrar o que sabe.

E quais as pré-condições para incutirmos a simplicidade como valor na cultura das companhias onde trabalhamos? Dentre outras coisas, precisamos tornar as estruturas menos hierarquizadas, criar ambientes mais informais, dar voz ao pessoal de frente, tratar os erros como oportunidades reais de aprendizado e divulgar as singelas iniciativas que deram certo para todos os níveis.
Se concordarmos que a escolha pela simplicidade garante bons resultados organizacionais e, principalmente, possibilita uma vida plena e feliz, é justo irradiá-la para tudo mais que nos rodeia. Contudo, como a escritora Clarice Lispector certa vez disse, que ninguém se engane, pois só a conseguiremos através de muito trabalho.

Fonte: Administradores.com.br