A cultura da simplicidade
O modelo de gestão norte-americano que foi incorporado pelas companhias 
brasileiras com pouquíssimas reservas nestas últimas décadas é 
responsável por uma série de valores que ajudaram a modernizar o parque 
industrial brasileiro, mas também trouxe consigo uma cultura baseada na 
sofisticação que pode ser extremamente danosa em vários casos.
É comum encontrarmos empresas nas quais questões fáceis de resolver, a 
princípio, são encaradas como problemões e aonde as soluções óbvias são 
descartadas justamente por causa do senso comum de que as respostas 
adequadas sempre precisam ser estratégicas e complexas. Resultado: muita
 pomposidade e ineficácia.
Mesmo competindo num mundo cada vez mais complexo as organizações 
devem simplificar tudo aquilo que fazem se quiserem lidar adequadamente 
com o quadro de incertezas que enfrentam em seu dia a dia. E vale 
lembrar: aquelas que enveredam pelo caminho da complicação tendem a ser 
lentas no processo decisório e a naufragarem cedo ou tarde.
Valorizar a simplicidade é, acima de tudo, estimular o potencial 
criativo das pessoas, afinal as pequenas e grandes ideias inovadoras que
 revolucionam o mercado muitas vezes são óbvias. Não é a toa que quando 
estamos diante de novas maravilhas nos indaguemos: "Nossa! Como ninguém 
pensou nisto antes?"
As empresas de tecnologia, pelo menos, praticam este princípio há 
algum tempo. O iPad, por exemplo, possui um manuseio tão fácil que 
qualquer pessoa o domina em poucos minutos, até mesmo o meu filhinho de 
um ano. Mesmo caminho adotado pelo Wii, da Nintendo, que graças à 
simplicidade tornou possível a venda de mais de 100 milhões de unidades 
para clientes que, em muitos casos, já não se arriscavam a jogar 
videogame há um bom tempo intimidados pela complexidade dos modelos 
anteriores disponíveis.
No entanto, é preciso saber diferenciar simplicidade de simplismo. 
Enquanto este se refere ao raciocínio que despreza elementos necessários
 à solução de um dado problema proporcionando apenas resultados 
paliativos, aquele tem a ver com o emprego da forma mais fácil para a 
sua resolução efetiva. Ou seja, ser simples não é escolher o tosco. Ou 
você acha o iPad malfeito?
Além disto, é importante salientar que soluções simples são tão 
eficazes – senão mais – do que aquelas com alto grau de sofisticação e 
possuem a vantagem adicional de estarem próximas. Quem já não se deparou
 procurando uma fórmula mágica para resolver determinada encrenca quando
 a alternativa mais óbvia estava bem diante de seus olhos?
Nas relações pessoais também é importante guiar-se pela simplicidade.
 Quanto mais clara e objetiva é uma mensagem menos ruídos surgem pelo 
caminho e isto resulta na compreensão esperada. Assim, é admirável que 
você domine o jargão corporativo de A a Z, mas não precisa utilizá-lo a 
toda hora apenas para mostrar o que sabe.
E quais as pré-condições para incutirmos a simplicidade como valor na
 cultura das companhias onde trabalhamos? Dentre outras coisas, 
precisamos tornar as estruturas menos hierarquizadas, criar ambientes 
mais informais, dar voz ao pessoal de frente, tratar os erros como 
oportunidades reais de aprendizado e divulgar as singelas iniciativas 
que deram certo para todos os níveis.
Se concordarmos que a escolha pela simplicidade garante bons 
resultados organizacionais e, principalmente, possibilita uma vida plena
 e feliz, é justo irradiá-la para tudo mais que nos rodeia. Contudo, 
como a escritora Clarice Lispector certa vez disse, que ninguém se 
engane, pois só a conseguiremos através de muito trabalho.
Fonte: Administradores.com.br 





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