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1 de fevereiro de 2012

Bom, o inimigo do ótimo


Ser bom em algo é relativamente fácil, tudo que você precisa é fazer o que os outros lhe dizem para fazer um pouco melhor do que eles esperam. Todos nós temos expectativas acerca de tudo, atinja essa expectativa (não ultrapasse) e você será bom.
Terá estabilidade no emprego e talvez conseguirá uma promoção algum dia. Mas para ser excelente em algo, é preciso deixar essa zona de conforto e seguir adiante em direção ao excepcional. E isso não tem nada de confortável.


Alguns anos atrás eu li a frase “bom é inimigo do ótimo” que me deixou muito intrigado e confortável ao mesmo tempo. Primeiro, ela era contraditória, já que o sistema de ensino e a sociedade brasileira nos educa para sermos bons e não ótimos — para sermos empregados e não empregadores. Segundo, porque eu sempre acreditei que se você quer chegar a algum lugar, é preciso fazer diferente, estar acima da média e não se contentar com pouco.


De vez em quando, comentava essa frase com alguém e a pessoa geralmente não a entendia muito bem. Achei que podia ser coisa da minha cabeça. Então, eu assisti uma entrevista do Jô com o Eduardo Sterblitch, e ele dizia que a sua vó costumava dizer algo parecido. Ao que parece, é um ditado antigo porque Voltaire disse praticamente a mesma coisa mais de 200 anos atrás — “não deixe o perfeito ser inimigo do bom”.


Independente da origem, é uma verdade. Ser bom é o suficiente para 90% das pessoas que fazem seus trabalhos da mesma maneira há anos, não inovam, não argumentam, não aprendem coisas novas e estão satisfeitas por estarem em uma posição confortável. E isso não é exclusivo de cargos mais baixos, até diretores executivos podem ser apenas bons. É preciso ser mais exigente consigo do que com os outros.


A diferença entre ser bom e ser excelente e em algo está no quanto você exige de si, se cobra e consegue se auto-motivar. É como o lutador Rashad Evans disse recentemente em uma entrevista, se você quer trabalhar com os melhores, é preciso que seja quase uma obsessão. Quando Bill Gates, ainda adolescente, ia para universidade de madrugada fuçar nos computadores porque era o único horário que ele podia, era uma obsessão. Quando Churchill batia de frente com parlamentaristas mais poderosos do que ele quando todos diziam para ele não fazer, era uma obsessão. Quando Scott Adams passou 7 anos trabalhando em uma empresa de dia e desenhando a noite até conseguir viver dos seus cartoons, isso era uma obsessão.


As empresas estão cheias de bons funcionários, e vale dizer que muitas delas preferem bons a ótimos (embora digam o contrário), porque alguns gestores com nenhuma visão de liderança não aceitam que funcionários se destaquem mais do que eles próprios. A média gerência é a mais importante de uma empresa, porque elas sabem de coisas que a alta gerência desconhece e é a principal responsável por não desenvolver potenciais talentos. Se você acha que seus chefes o impedem de chegar ao ótimo, e várias pessoas dizem que você está perdendo tempo ali, considere sair. Uma das maiores características do ótimo profissional é a coragem. Ele arrisca porque confia no seu potencial e teme o mediocridade mais do que tudo.


Perseguir a excelência não é fácil. Exige sacrifício, disciplina e coragem. É preciso querer ser melhor que os outros não pela arrogância, mas por satisfação pessoal. A dificuldade de ser um ótimo profissional, atleta, músico ou que quer que seja é brilhantemente descrita em uma frase do músico Erlend Øye: “demora tanto tempo para irmos do 0 a 90% quanto do 90% a 100%”.


Fonte: Pequeno Guru
Autor: Sylvio Ribeiro